Senhora

Senhora

Eu sempre aprendi que a gente chama pessoas mais velhas de “senhor” e “senhora”. É uma questão de educação. Mas, quando começamos envelhecer essas linhas também começam a ficar meio borradas…
Entrei no banco outro dia e precisava fazer o depósito de um cheque pra mim mesmo no caixa eletrônico. Acontece que eu não sabia direito como fazer isso.

Daí, o que qualquer pessoa minimamente inteligente faz? Isso mesmo, lê o verso do envelope de depósito de cheques, onde tem instruções. Porém, foi isso que eu fiz? Claro que não!

Eu pedi informação para a primeira pessoa que vi. A primeira impressão, uma senhora que preparava também o próprio depósito: vejam só, de um cheque.
— Senhora — eu disse, e me arrependi no mesmo instante! — o que eu preciso escrever no verso do cheque antes de depositar?

Eu concluí a pergunta só pra coisa não ficar mais estranha do que já tava. Ela não era mais de três anos mais velha que eu de jeito nenhum! O que significa que ela jamais tem mais de 30. E o risco de que seja mais nova que eu é real!

Ela foi extremamente solícita. Passou-me todas as informações e instruiu direitinho o que eu tinha que fazer. Chegou até a me entregar o bendito do envelope pro depósito – e aí eu vi as informações lá no verso.

Como ela estava bem mais adiantada que eu, fez o que precisava e foi embora. E eu fiquei lá, anotando meus números e pensando em como ser senhor e senhora são coisas relativas.

Lembrei de quando eu dava catequese – sim, já fui catequista nessa vida – e de um dia que um garotinho de uns 8 ou 9 anos me chamou de senhor. Cara, eu tenho 27 anos hoje, na época eu tinha 16! Senhor?

Fiquei encabulado, talvez tanto quanto a moça do banco porque não era assim que eu me enxergava. Mas a gente não tem domínio sobre como as outras pessoas nos enxergam.

E isso varia, seja pelo aspecto físico da gente – e há quem me dê até cinco anos menos do que tenho – ou pelo repertório cultural. Talvez ser senhor ou senhora seja só mais um traço da idade adulta ou  simplesmente não passe da constatação de que ainda existe gente que procura ser respeitosa e educada com os outros – mesmo que isso não dê lá muito certo. E vale tanto pro meu catequizando quanto pra mim.

Talvez isso me sirva de consolo, porque, olha, tô com vergonha até agora!

Escritor por Simião Castro Veja todos os textos deste autor →

Simião é jornalista, repórter de política, escreve contos e crônicas. Também conta histórias em áudio, vídeo, o que você pedir, é produtor multimídia, saca um pouco de tudo. “Eu tento ser um jardineiro das palavras, um aventureiro das sílabas. Duvido de tudo e prefiro assim! As certezas me assustam. Quem tem certezas demais também”.

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