Rir, de balançar, é o melhor remédio

Rir, de balançar, é o melhor remédio

Aprendi muito com minha saudosa vó Maria, senhorinha que adotei e não admito dizerem não ser minha vó de verdade, porque é. Talvez um dos ensinamentos mais bonitos dela é que quando uma piada ou acontecimento é engraçado além do normal, a pessoa “ri de balançar”.

O que ela queria dizer é que quando há graça, sente-se cócegas na alma, que dá um sacolejo no corpo todo, a pessoa bate palmas, sai até uma lágrima dos olhos, quem tem uma barriguinha até estremece a pança. Há quem fique com a “bexiga solta”, vish.  Quando o balanço é demais, tem quem deite no chão.

Eu ri de balançar poucas vezes na vida, mas foi tão boa a sensação que na memória estão todos os motivos. Anteontem, depois de meses sem senti-la tive uma tremenda crise deste tipo de riso. Fiquei uns dez minutos tentando parar e nada. Eu ria mais ainda quando lembrava da expressão da vó, uma das pessoas mais bonitas que já conheci. Minha bochecha ficou dormente, os olhos molhados e acordei meu marido que já cochilava com o barulho da minha gargalhada. O engraçado é que parei de tentar voltar ao normal quando me recordei que há tempos eu não ria de balançar.

Mais incrível ainda é pensar que se eu contasse o motivo poucos ririam até sem balançar, talvez dessem um sorriso amarelo para não me deixar no vácuo. Eu prefiro esse riso raro, que vem sem ter que recorrer a stand ups ou filmes de comédia. Quando dá para rir de balançar junto com alguém é ainda melhor. O riso de balançar tem um poder contagioso e às vezes o último a rir nem achou graça da causa de tanta gargalhada, mas do “bobo alegre”. Porque realmente é de rir um sujeito que chega a estremecer de algo aparentemente sem sal. Quando a risada do amigo é daquelas de engarrafar aí não tem jeito mesmo, o riso de balançar contagia.  Melhor ainda é quando o amigo é provocar de verdadeiros terremotos corporais de sorrisos, estar perto é correr o risco de estremecer. É até perigoso em certas situações, pode deixar pessoas do recinto constrangidas ou a situação pode ser a mais inadequada possível para uma crise de riso.

Eu me senti muito mais leve depois de rir de balançar anteontem e a saudade da vó bateu forte, como eu queria vê-la para contar o que aconteceu e para vê-la contar causos tão engraçados que provocam terremotos de sorrisos. Nem me dei o direito de ficar triste porque ela é que estava certa, rir de balançar provoca as melhores sensações. E quero ter olhos para enxergar situações que mais cabem uma crise de risos do que uma crise de nervos, que eu estremeça tanto de rir que minha vozinha sinta lá no céu minhas cócegas na alma.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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