Reze por mim!

Reze por mim!

É difícil saber o momento exato que a caneta passou a ter peso de chumbo, o trabalho deixou de ser prazeroso. Mas acontece com muita gente, aconteceu comigo. A bad, termo moderno para os dias ruins, arrombou a porta da frente da minha vida com uma força nunca vista antes. E o que eu costumava fazer para espantá-la, como correr e escrever, tornou-se impossível.

Pensei: vou rezar, mas colocar as mãos postas com fé exige uma certa força. E ser uma fortaleza espiritual o tempo todo é quase impossível. Ser humano é montanha-russa, ora tá bem, ora lá em baixo, assustado depois de uma queda, extasiado por estar no lugar mais alto. Mesmo no alto o medo o acompanha, pois uma hora vai voltar para baixo. Implacável esse movimento da vida.

E em uma dessas quedas, eu não conseguia nem rezar. Não é que perdi minha fé, proferir uma oração ficou tão difícil quanto as outras tarefas que eu fazia com facilidade antes da bad chegar. Nunca havia passado por isso. Meu desejo era recuperar o fôlego para apreciar a vida do ponto mais alto, porém a força para me reerguer parecia não existir. Pensei: vou pedir oração para quem que é fortaleza. Fui lá.

Assumi minha fraqueza, fechei os olhos, fiquei nas mãos de uma senhorinha. Eu não sou católica, mas acredito em tudo que é feito com boa intenção, o que eu sabia que ela tinha de sobra. A mulher que rezou pra mim colocou nas minhas mãos Santa Clara, a mesma que uma amiga me entregou em outro momento difícil. Para quem não sabe, ela é a santa da comunicação, mais precisamente da TV. Tantas convergências, e não coincidências, confirmaram: eu estava onde precisava estar.

E quando saí daquela casa, aos poucos gostei de estar na minha pele novamente. Passados alguns dias, entendi que eu estava tão fraca e triste que nem força para rezar eu tinha. Por isso, desde então, rezo por mim e pelos outros. Quem precisa de oração pode não pedir, pois apesar da pouca força, exige coragem de assumir que precisa de alguém em um mundo no qual todo mundo, na superfície das redes sociais, está bem.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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