Réveillon silencioso

Réveillon silencioso

A corrida por viradas pirotécnicas começou faz tempo. Eu gosto de ver os ponteiros chegarem ao primeiro minuto do ano com calma. Às vezes já na minha cama, à mesa com poucos e bons amigos. Talvez porque eu veja o réveillon como a troca de calendário e não uma revolução, uma data que possa mudar tudo, de um minuto para outro.

Acredito mais em ciclos – múltiplos, infinitos. O tempo todo um começa e outro se fecha, alguns como se eu tivesse em uma festa com fogos, muita música, roupa nova. Outros silenciosamente – na calmaria da minha casa ou dentro de mim, nem sempre de maneira serena. Alguns começam sem eu me dar conta, também terminam de formas distintas – abruptas ou a muito custo – porque desejei ou simplesmente chegou ao fim.

A virada do ano também traz ciclos, principalmente aqueles que todo mundo vive. Nos 366 dias de 2016, principalmente os negócios se guiam com base no calendário formal. Aniversários, feriados e até o um dia a mais do novo ano. Tudo mais ou menos previsto. Porém, o calendário cíclico de cada um, com inúmeros réveillons, vai muito além.

Eu celebro minhas viradas, outras passam em branco por eu nem perceber que algo começou ou terminou. O tempo, o que tem dias definidos, é mais fácil de festejar, de ritualizar – gravidezes, graduações, contratos. Difícil é ver todos os réveillons particulares, com alguns inícios lindos, tristes, neutros, todos necessários para as minhas viradas, aquelas que desejo, persigo – outras que vêm sem eu pedir, me obrigam a aprender.

Vou passar meu réveillon tranquila, sem pirotecnia, com festa bem calma. Dentro de mim várias viradas estarão acontecendo e continuarão, indefinidamente. É por isso que faço retrospectivas o ano todo, faz mais sentido do que quando chega mais um janeiro. Retrospectivas anuais quase sempre parecem dizer que muito ficou incompleto, dão um vazio danado. Tem  razão de ser, pois os ciclos têm seus calendários próprios. Daí, o que ainda está a caminho frusta. Porém, se eu vejo que tenho réveillons a todo tempo fica mais simples e a vida é mais festejada, já que a celebração da virada será em vários dias do ano e não só em 31 de dezembro.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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