Quando um diploma faz diferença?

Quando um diploma faz diferença?

Certa vez cumpri uma agenda que não tinha como escapar e sai extremamente chocada do jantar. Depois de um discurso vazio para os convidados, uma das personalidades do evento entregou uma redação feita na quarta série com o tema “Quem sou eu”. O português até que estava bastante correto para uma criança, mas o conteúdo… O sujeito dizia não ser ninguém, pois só seria alguém quando se formasse em medicina, o que de fato aconteceu. Ainda bem que o texto foi entregue no final da noite, pois meu estômago não aceitava o que lia, acompanhando meu cérebro que dava voltas diante dos argumentos usados.

Eu comecei a pensar se ele, que cuidava de pessoas e já havia atendido no Sus, considerava quem não tinha formação como ninguém. Pensei ainda se era qualquer curso que valia ou se tinha que ser um específico, desses que levam os pouco informados a chamarem dentistas, advogados ou qualquer outro profissional do tipo de doutor, mesmo sem doutorado. Eu admito que chamo alguns de doutores porque sei que se sentem bem e fazem cara feia se eu falar você ou senhor, porém discordo.

Aí me lembrei de pessoas mais sábias do que muitos que passam anos em bancos de faculdade e de que quando um ser humano é considerado como tal não tem essa de não ser ninguém, independente do que faça ou tenha. Pra mim é muito difícil entender o pensamento de quem precisa de muitos elementos para considerar os outros ou se considerar alguém. No jornalismo, por exemplo, eu já fiz centenas de entrevistas com donas Marias e seus Zés que valeram falas de quem tem um Nobel em mãos. Também retornei ao momento que descobrimos que alguém espera um bebê. Sem saber absolutamente nada, sexo, o que vai querer ser, a gente sabe que há ali uma pessoa que vai mudar várias vidas.

Eu já sabia desde o início que o jantar não seria dos mais saborosos, mas ouvir que ser médico transformava um nada em alguém me deixou com  vergonha. Tempos depois, descobri fatos absurdos, condenados pela lei. Até o ponto que acompanhei o médico ainda não tinha ido em cana, talvez por ser alguém, com diploma e influência. E se sofrer as consequências previstas, vai agradecer ter um diploma mesmo, fará diferença ficar em uma cela especial. Tenho certeza que valorizará ainda mais a formação superior completa, atrás das grades o diploma faz diferença.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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