Quando se tem como herança sorrisos e amor

Quando se tem como herança sorrisos e amor

Minha vó Ni se foi, mas ficou em mim e naqueles que a amavam. Para sempre vou abrir um baú daqueles que só as avós têm: com memórias que fazemos questão de guardar pra sempre porque nos fazem sorrir e continuar a aprender com o que elas ensinaram enquanto estavam conosco. E uma das memórias que chegaram primeiro a mim me fez rir com saudade. Lembro como se fosse hoje quando eu e a Clarissa tínhamos uns 5 anos, comíamos beterraba e sujávamos toda a boca, só pra chegarmos e falarmos pra vó Ni que era batom vermelho. Ela acreditava, xingava e ainda fazia a gente passar papel pra tirar (rsrs). Essa foi a nossa Irani! Vó Ni, tia Ni, mamãe… Tão amada e de um jeito tão sincero e singular.

A cor do seu cabelo já era tão grisalho quanto a cinza, as suas pernas já não tinham tanto sustento para caminhar, mas ainda assim vó Ni insistia em ser independente e andar de um lado para o outro. A cabeça, ah, uma caixa de memórias. Em um dos últimos dias no hospital ela lembrou até do cachorro da filha do afilhado, o qual frequentou a casa dela há um bom tempo.

O seu coração, esse não tem palavra e nem sentimento único que define: foi gigante, piedoso, acolhedor; vó Ni sempre tinha muito afeto e atenção a doar para o outro. Ela observava tudo em nós, em mim, desde uma roupa nova que eu usava até a cor do meu esmalte. Se a minha unha era vermelha, rosa ou nude, a frase se repetia todas as vezes: “sua unha está linda, fia”.

Vó Ni queria estar por dentro dos assuntos da família, fazia perguntas que ninguém ousava, não bastava só a preocupação notória que ela tinha com a ida e volta de dois de seus filhos todos os dias para a roça. Era preocupada e queria sempre tomar conta de todos os filhos, netos, genros, noras, e daí por diante…

Herança que nunca acabará

Nesses últimos dias, vó Ni me marcou me ensinando em seu modo de comportar e nas suas palavras que, que podem ser poucas para alguns, e valiosas para outros, do jeitinho que foi para ela. Não reclamava, não fechava a cara e nem parava de falar: “já tá bom, eu tô bem”. A força e a coragem da vó Ni a fez saudável e firme durante todos os seus dias vividos. O dom de perdoar sobressaiu na vida da vó Ni, ao invés de guardar mágoas dos que a ofendiam, vó Ni sempre preferiu guardar suas várias colchas novas que comprava e nem usava, era só para ter guardadinhas mesmo.

O resultado disso tudo foi uma grande alegria e pureza espalhada entre nós durante tanto tempo. A sua herança é o seu sorriso, o qual não sai da nossa cabeça, o seu beijo na testa e seu jeito único de segurar as nossas mãos durante uma vida inteira. Saudade e a essência do seu amor em mim, em nós, dia após dia.

Escritor por Letícia Camargos Veja todos os textos deste autor →

Letícia Camargos é estudante de enfermagem, natural de Ibitira, distrito de Martinho Campos, MG. Adora uma temporada na terra Natal, as coisas e pessoas simples, pois acredita que aprende com elas o que o mundo insiste em complicar.

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