Quando o nome trocado não dói

Há quem quase morra quando o nome é trocado. Eu fico imaginando se os pais, avós e tios deles não são como os meus: falam o nome de todos os familiares até acertar o meu. Se fosse para eu ficar com raiva toda vez, já teria deixado de falar com eles há alguns anos. Vai ver, quando os valorizadores do nome estão em família, nunca confundem com o nome do inimigo, como eu fiz e contei aqui. É mais difícil ficar com raiva por terem falado o nome do irmão, por exemplo, em vez do deles. Eu costumo nem ligar. Na casa da minha vó Zeni ainda tem um agravante no mínimo engraçado. Atualmente ela vive na companhia de quase 10 cães, além de falar o nome dos netos e filhas, me chama de Pedrita e Fada – alcunha de duas cadelas.

Como é que vou ficar brava com ela que viveu mais de 70 anos e já teve que decorar tanta coisa? Eu, com menos de 30, já troco bastante, a torto e a direito.  Devo ter emputecido muita gente que engoliu a seco o meu erro. Ah, mas deixa pra lá, né? Tem que ser bem narcisista implicar por tão pouco ou ter um inimigo muito inimigo para se vingar de mim como a vítima do último nome que troquei fez.

Eu fico imaginando como deve ser nas casas que os pais decidem colocar os nomes todos combinantes. Hoje, a Ana Fabrícia, irmã da Ana Paula e mais outras duas Anas, disse que na casa dela é a maior confusão. Para ela, não é problema nenhum, mas honra, já que tem o nome confundido com o de quem ela gosta. Dei um suspiro de alívio ao ler o comentário, troquei Paula por Fabrícia em um programa de rádio ao vivo. Pudera, né? São parecidas no nome, idênticas na profissão e função – jornalistas de rádio, locutoras com vozes lindas.

Presumo que na casa da minha vó Rita tenha acontecido o mesmo com as Marias – Maria Zirley e Maria Zirlene – Leia e Lene, como as chamamos. Como na casa das Anas, é impossível que tenham se sentido ofendidas também. Ah, e eram tantos Josés – José Nilson, José Luís, José Adelson que ninguém devia dar importância para tão pouco. Tanto que os Zés se transformaram em Nilson, Zezé e Deio, como naturalmente acontece com donos de nomes compostos, um dos dois é esquecido. Lá na casa da minha avó, o segundo nome ajudou muito a evitar mistureba, né? Sem falar no Edmilson e Denilson, o último virou Nenem. Mais fácil diferenciar assim.

Em família, principalmente as numerosas e repletas de nomes parecidos, é impossível que o ouvido dê calo quando o nome é trocado. Não incomoda, no máximo não sabemos que falam conosco se o dono do outro nome estiver no recinto. Pra mim, nome trocado não dói. Ainda bem, menos uma preocupação.

 

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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