Quando a dor da perda começa a suavizar

Quando a dor da perda começa a suavizar

É irritante ouvir que o tempo é o melhor remédio para a dor do luto quando acabamos de perder alguém. Penso que as pessoas deviam achar que minha expressão era de tristeza por causa da dor da perda, entretanto ficava angustiada ao ver que consideravam haver um remédio natural e infalível para o que eu nunca havia sentido e achava que jamais passaria. Hoje sei que todas estavam certas e que minha irritação era explicável, pois eu perdi quase toda a paciência que tinha na época, só não falava nada por preguiça de fazer algo, outro comportamento bem típico dos meses que se seguiram mais apáticos.

Eu também pensava que era balela, um consolo besta e que ninguém, nem quem já havia passado pelo luto, podia entender meus sentimentos. Graças a Deus estava enganada. Tem dias que é como se fosse o primeiro ainda, mas na maioria deles as lembranças conseguem me fazer sorrir. Quando é o choro que vem, deixo as lágrimas escorrem, porém tento espantar a angústia para longe. E eu só comecei a melhorar quando entendi que sair daquele estado de extrema tristeza era preciso, que se eu deixasse por conta do que a morte me causava nunca conseguiria ter dias normais novamente.

Não me esqueço, pelo contrário, lembro todos os dias dos meus, especialmente da minha mãe. Sempre que pego o caminho para casa “acho” que vou encontrá-la à porta, é difícil acreditar que a doença levou-a com tanta rapidez, tão jovem, é difícil acreditar em todas as outras perdas, previsíveis ou não.

Só que o que pedi que acontecesse tornou-se realidade: na maioria das vezes as lembranças dos meus me aparecem sem tanta tristeza. No fundo há uma lágrima sempre, uma dor diferente de todas as outras, mas tento fazer com que esses sentimentos permaneçam menos gritantes para mandar vibrações positivas para os espíritos deles.

Ontem, ao conversar com a minha avó que dizia querer um remédio para esquecer tudo nos primeiros dias hoje depois da morte da minha mãe me falou em tom de sabedoria que as lembranças vêm todos os dias, mas que a angústias já não fazem parte do lembrar na maioria das vezes. Esquecer é impossível, a lembrança um alento e uma forma de não deixar a pessoa ser enterrada. Certa vez li que uma pessoa só vai de fato embora quando o nome dela é dito pela última vez e eu creio nisto como se fosse um mandamento bíblico. Pelo menos enquanto eu estiver aqui os que amo ainda estarão comigo.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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