Plantar o bem é pouco, é preciso saber cultivar

Plantar o bem é pouco, é preciso saber cultivar

Só colho o que planto. Mentira! Pouco adianta plantar o bem se eu não souber cultivar, qual a quantidade de vezes regar, como podar… Além disso, erva daninha brota sem que ninguém tenha semeado e sobrevive a condições que a mais bonita das rosas não suportaria. Aliás, a erva pode até destruir todas as flores, árvores e frutos se ficar muito tempo entre elas. É preciso ir ao jardim ou pomar e arrancar tudo que tira a vida do que é para floresce no quintal.

Eu nunca concordei com a máxima de que é só plantar o bem para ter uma colheita boa. Acredito que sou a principal responsável pelo que me acontece, principalmente porque o que as outras pessoas fazem e reflete no meu jardim também deve continuar ou ser podado por mim. Pode ser daquelas florzinhas bonitas e inocentes que nascem sem que eu faça nada e até torne o jardim mais belo ou uma erva que se não for controlada vai estragar parte ou até tudo que estiver no quintal. É minha responsabilidade olhar não apenas os meus atos, mas o que os outros fazem e reflete na minha vida.

Então, não é só o que planto que colho, definitivamente. O que irá florescer tem mais a ver com a forma que cuido de todo terreiro do que o que semeei nele. Como acertou Saint-Exupéry, somos responsáveis por tudo que cativamos. Eu traduziria cativar aí como cultivar porque é o cultivo que define quão saboroso será o fruto e a beleza da rosa.

A vida é complexa demais para achar que tudo que acontece na minha vida depende só do que faço. Assim me falam para o marasmo e conformismo não tomarem conta dos meus dias. Mas eu acho que isso de dizer que os outros não têm nada a ver com o que a vida se torna não é bem assim. Óbvio que qualquer pessoa só pode interferir nos acontecimentos se eu der espaço, deixá-la ter relevância na minha vida. É aí que não basta apenas plantar, tenho que cuidar do jardim, do pomar para que quando for a hora certa colher ou encher meus olhos com as cores de rosas, margaridas e begônias.

Sou responsável por tudo que cultivo, me dou mal quando acho ser uma flor que nasceu sem semente jogada por mim e na verdade rego, deixo fincada na terra uma erva venenosa.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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