Parafuso

Parafuso

 

Você alguma vez já apertou tantos parafusos por tantas vezes seguidas e com tanta força que chegou a machucar a mão? Você dificilmente percebe o esfolamento durante o trabalho, a bolha d’água só aparece depois.

E quando ela aparece dói demais. É difícil até lavar a mão, porque arde muito! Os movimentos ficam limitados, já que qualquer repuxadinha de pele é um incômodo novo.

Isso quando você não passa um tempo de boa, sem se mexer muito e de repente aperta alguma coisa, ou estica a mão pra algo e LAU! Aquela fincada de que dor que te cata de surpresa.

É a consequência de muito esforço localizado em um propósito só por pouco tempo. E sabe com o que isso parece? Com uma parte enorme dos nossos pequenos romances cotidianos. Fala se não!

É aquela coisa de bater o olho em alguém, não interessa onde, e logo tentar uma aproximação. O contato rapidamente passa pra um encontro, que leva a um beijo e, muuuuitas vezes, pra cama!

Não que exista um problema em ir logo pra cama. Já falei isso antes aqui: sexo sem compromisso é perfeitamente legítimo. Acontece que não é bem isso que a gente tem enxergado muita gente procurar, né?

Eu tenho visto cada vez mais gente frustrada com relacionamentos que mal começaram e a equação não é difícil de montar.

A gente tem investido muito esforço em encontrar nas pessoas uma correspondência forte e imediata das nossas próprias necessidades. E quando o outro não dá logo esse retorno, a frustração vem com tudo!

A mania de querer a resposta instantânea no WhatsApp, de criar um turbilhão por conta de um “visualizei e não respondi”, contribui unicamente para própria decepção. Mas quem é que criou as expectativas mesmo?

É óbvio que nada disso se aplica que existir recíproca. Quando o outro incentiva a gente a criar as expectativas. Porém, eu to falando justamente da falta da correspondência.

Mesmo assim a gente voluntariamente aceita o papel de trouxa. Coloca na cabeça um monte de situações e conflitos que só existem na nossa própria imaginação.

E aí não existe outro resultado: é a cara na parede e a decepção infundada. Pior, muitas vezes um sentimento irreal de vítima e a profunda disposição de começar tudo de novo em vez de resolver pegar com cuidado a chave de fenda, segurá-la com segurança e conforto e torcer de leve os parafusos. Não adianta pressa, ela só vai fazer a ponta da chave escapar e furar a parede. Garanto que as chances de machucar a mão são menores.

Escritor por Simião Castro Veja todos os textos deste autor →

Simião é jornalista, repórter de política, escreve contos e crônicas. Também conta histórias em áudio, vídeo, o que você pedir, é produtor multimídia, saca um pouco de tudo. “Eu tento ser um jardineiro das palavras, um aventureiro das sílabas. Duvido de tudo e prefiro assim! As certezas me assustam. Quem tem certezas demais também”.

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