Os sons da insônia

Os sons da insônia

Quando dormir é um desafio descobre-se que a noite é repleta de sons. A insônia é ensurdecedora. Barulhos quase inaudíveis tornam-se estrondos quando a cabeça está encostada no travesseiro, os olhos fechados e nada de adormecer. Neste semana, interrompi a contagem dos carneirinhos porque o barulho da geladeira (nova) me irritava. A respiração do meu marido tinha os decibéis de um ronco e alguns galos cantaram lá pelas duas da manhã – devem ter insônia também. Quase tirei a pilha do relógio que estava em outro cômodo, separado por uma parede.

Minha rua é tranquila, mas eu conseguia ouvir cada automóvel que passava por ela e estava tão atenta aos sons que tive a sensação de escutar os passos das pessoas que caminhavam de madrugada. E o pior não é nem isso. Os pensamentos, da pior qualidade, entram na mente e quase nunca dão lugar a pensamentos positivos. A noite em claro parece trazer o que tenho de obscuro. Só o mundo dos sonhos ,ou pelo menos do sono, consegue me deixar sossegada durante a madrugada.

É por isso que entendo a popularidade do tarja preta Rivotril. É mesmo difícil ficar acordada com todos os sons da noite e da mente. Não me rendi a ele porque não é toda noite que Morfeu me abandona. Também não quero viciar. Prefiro meu Valeriana, comprimidos a base de maracujá que não me apagam, mas me acalmam, fazem até que o volume do mundo da noite diminua.

Eu sei, você deve pensar que eu deveria usar a insônia para ler ou escrever, só que são duas atividades que me mantêm mais desperta ainda. Aí eu prefiro arranjar uma forma de pegar no sono, nem que seja três, quatro horas depois. Apenas se o barulho tá demais na minha cabeça, leio, escrevo. No outro dia, amanheço um trapo e tenho um dia tão ruim quanto a noite.

O barulho alto se transforma em zumbido na minha cabeça. Eu fico as horas de sol na tentativa de colocar o mundo no mudo. Mas o telefone não para, o e-mail continua insano e a lista de tarefas precisa de oks ou traços vermelho para as horas comerciais valarem a pena. Aí vem a noite de novo, e olha, uma noite sem dormir, um dia de zumbi não é garantia nenhuma de adormecer. Eu preciso baixar meu volume, porém custo a achar o meu controle. Desisto, ligo a televisão.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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