O sabor do chá de cadeira

O sabor do chá de cadeira

Ter que esperar alguém ou algo atrasado é como autorizarem a largada e te segurarem. É ficar cansado sem fazer nada, ter tempo vago preenchido com o vazio da espera. É começar a avaliar o material do assento em que estou. É pegar café, água e até chá para tentar engolir algo que você não sabe o que é ainda: um bolo ou um chá, de cadeira. É tentar encontrar desculpas para mandar um recado educado para ver se o outro vem logo. É dar andamento na leitura, mas de minuto em minuto olhar o celular, a porta, a rua e pensar que todo mundo é a pessoa que você espera.

Chá de cadeira não é diurético, não cura gripe, nem agrada o paladar. Chá de cadeira é como aquelas bebidas que se toma por engano, feita das piores raízes. Na maioria das vezes, é um misto de falta de consideração com maus hábitos. E nos últimos tempos, tenho marcado tudo com margens para tomar esses chás indigestos. Tem sido tão frequente que agradeço quando a poltrona é confortável. Até porque já tive que esperar na calçada, na varanda, em ruas ermas… Cheguei aos locais e nem a empresa e ou casa estavam abertos, daí o jeito foi improvisar e diluir a espera, experimentar chás ainda piores do que o de cadeira. E olha, o problema é quando o chá fica tempo demais no “fogo” e vira bolo, aí desce goela abaixo, rasgando.

Acho que é até por isso que estou craque em escrever no celular e tem lido ainda mais. As pessoas têm se preocupado cada vez menos em deixar o outro em stand by. Esquecem que o tempo é escasso e pouco se importam com os horários. Ainda por isso, adoro as reuniões on-line. O chá na minha cadeira é bem melhor do que nas outras. Só que virtualmente as pessoas quase não atrasam, é raro. Não sou hipócrita de dizer que nunca atrasei, sim, eu atraso. Imprevistos fazem parte da vida de qualquer um. Mas eu tenho a decência de avisar o quanto antes, assim que possível.

Mas prefiro que os chás e bolos acompanhem o encontro, mas no momento certo. Quando várias boas ideias forem discutidas. Esses chás e bolos sim, são permitidos e bem-vindos.

Referência da imagem que ilustra a postagem e de outras expressões da língua portuguesa aqui. 

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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