O que ninguém tem coragem de falar quando deixa de namorar a distância

O que ninguém tem coragem de falar quando deixa de namorar a distância

Começar um namoro a distância é estar na corda bamba da saudade e de outros sentimentos que preferem a distância embora também existam quando os dois vivem na mesma cidade. Quem namora a distância tem uma conta telefônica mais cara ou vive com bônus para tentar amenizar a saudade. Sabe de cor os horários dos ônibus, voos ou tem grupos de carona para poder chegar aonde o outro está. Os menos possessivos vivem de vale-night e até os mais liberais têm uma crise de ciúme vez ou outra, pode ser sempre também, depende. Namorados que vivem longe também sentem-se inseguros e uma intensa vontade de que algo aconteça para que o par possa viver lado a lado.

A parte boa é que o relacionamento cai menos na rotina, a própria saudade deixa o encontro mais gostoso e ir até o outro já é uma viagem. Algumas viagens são longas demais e para muitos só o casamento tem a força necessária para mudar endereços. Outros veem a vida dar um jeito de juntá-los antes. Eu tive esta sorte e vi minha rotina mudar completamente.

O tempo que a gente passava no telefone foi convertido em tempo para ficarmos juntos. O dinheiro que gastávamos com a conta se transformou em lanche, aluguel de filmes e para as saídas. Principalmente no início, era certo nos encontrarmos todos os dias. Confesso que senti medo de que o que funcionava a distância desmoronar diante da situação oposta. Eu nunca tinha passado tanto tempo ao lado de alguém e os intervalos sempre pareciam deixar os encontros quinzenais melhores do que se não houvesse alguns muitos quilômetros entre nós. Assim, ao mesmo tempo que eu curtia a novidade tinha medo de enjoar. Sabe aquela pessoa que tem medo da rotina? Sou eu. O ciúme que era maior quando estávamos longe, deu lugar à insegurança. Parece bobagem, entretanto sentimentos bobos também aparecem sem que a gente peça, né?

Só mesmo o tempo é que conseguiu me acalmar e mostrar que rotina boa não cansa. Além disso, basta um pouco de criatividade para deixar os dias que parecem iguais diferentes. E a menos que a pessoa queira um relacionamento moderno, com cada um em sua casa, estar junto por mais tempo tem que ser bom para os que querem se casar. Quem é casado dorme e acorda junto de segunda a segunda. Se cansa do outro com facilidade, melhor repensar um possível matrimônio.

Casais brigam perto ou longe, mais ou menos. No entanto, acredito que é no dia a dia que se descobre quem é quem. Namorados a distância quando próximos dificilmente vão negar um favor, um carinho. Quem vive todos os dias do lado tem mais facilidade para dizer não, mas são nos dias úteis que o amor se mostra das formas mais simples e fortes. Isto não tem nada a ver com mandar flores, porém com agir de acordo com o que faz diferença na vida do outro, como parceiro, companheiro mesmo. Por isso eu digo que as provas do dia a dia são essenciais. É muito fácil ser especial em aniversários, fins de semana, quero ver é conseguir ajudar ao outro, de bom grado e não por obrigação, a viver de forma menos pesada, mais leve em uma tensa segunda-feira.

Um namoro a distância pode ser bem mais fácil do que dos que moram na vizinhança. Ver as pessoas em festsa é mais fácil do que todo dia. Ouvir os relatos sobre as dificuldades a distância é mais fácil que ajudar a resolvê-las. Mas os verdadeiros amores se apoiam, perto ou longe. Superam a saudade ou a rotina.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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