O pior veneno

O pior veneno

Eles moravam em uma casinha de pau a pique. A mãe saía para trabalhar de manhã, o pai de madrugada. A filha mais velha, com 10 anos, cuidava dos outros cinco. Apesar da pouca idade, a menina dava conta do recado. A casa era um brinco e quando os pais chegavam a mesa do jantar já estava posta.

Só que teve um dia que dona Francisca e José ficaram loucos. Chegaram e nenhum dos seis filhos estavam em casa. O que os tranquilizou um pouco foi saber que a mais velha tinha muito juízo, não ia deixar nada de ruim acontecer.

Passado um tempo, os seis chegaram vermelhos e muito cansados em casa. Seu José perguntou o que havia acontecido e a mais velha começou a contar.

– Ah pai é que o Pedrinho foi picado por um escorpião assim que o senhor saiu, tava escuro ainda, e eu fui levá-lo na farmácia do seu Astolfo.

– Muito bem, minha filha. Por isso chegaram cansados, andaram uma légua inteira debaixo do sol. Trouxe algum remédio?

– Sabia que nem precisou? O Pedrinho chorou o caminho todo de dor, mas quando a gente ia passar embaixo da cerca, ele falou que tinha sarado.

– E o que o seu Astolfo disse?

– Como o Pedrinho tinha parado de chorar e disse que não doía mais resolvemos voltar pra casa, não chegamos lá não.

Dona Francisca correu para arrumar  a mulinha e colocar a criançada toda na charrete. Era preciso ir no seu Astolfo sim, a menina chegou a avistar a farmácia e não entrou, estava pertinho, pertinho.

Lá foram eles pela estrada afora, Pedrinho começou a chorar. Todo mundo ficou preocupado de novo.

– Pedro, tá doendo muito?

– Não, pai, tô com medo desse escuro.

Astolfo limpou o local, deu uns comprimidinhos e ficou em dúvida se era picada mesmo de escorpião. Na hora de ir embora, ao sentar na charrete, o menino desandou a chorar de novo.

– o que foi, Pedro, dor?

Não, tá escuro na estrada.

O menino até tremia. Foi aí que seu Astolfo deu outro remédio pra choradeira, um lampião .

Assim a família voltou pra casinha de pau a pique. Sem saber se o menino tinha sido vítima de um escorpião ou apenas daquele que tem o pior veneno para lidar, difícil fazer parar de fazer mal: o medo!

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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