O peso dos 30

O peso dos 30

O relógio biológico marca muito mais do que o limite para gerar filhos. Perder peso torna-se uma odisseia na casa dos 30. Os ponteiros do organismo ficam mais lentos quando essa idade se aproxima. Parece que começa, em meu corpo, um horário de verão todo dia de uns tempos pra cá. Já os ponteiros da balança caminham em direção contrária, à frente.

Pior é que o meu corpo nem esperou os 30. Aos 29 essa idade tão temida já me mostrou que não é brincadeira. E olha que idade nunca quis dizer muita coisa pra mim, exceto agora. Eu celebrava a alegria de não me importar com ela. As pressões que a sociedade criou pouco contavam, mas o peso dos 30, que só chegam em junho do ano que vem, me deixou triste mesmo.

Eu que pouco falo de questões femininas de beleza, sou pouco ligada a padrões, acho as mulheres plus bonitas. Porém, acumular mais gordura não é saudável, o que que há de se fazer, né? O jeito é correr atrás do prejuízo que é culpa do senhor tempo, esse sujeito que ninguém tapeia com facilidade.

Não chega a ser uma crise, é revolta porque o relógio começou a ficar devagar e tenho que fazer muito mais que antes. E esse parece um problema difícil de resolver. Eu corro, literalmente, três vezes por semana, e até que faz efeito. Porém, noutras épocas, teria emagrecido bem mais. Como umas gordices de vez em quando sim porque se eu for ser escrava deste relógio biológico me privo do que há de bom na vida. No entanto, na maior parte do tempo sou natureba, light. 

E claro, esse relógio perverso, como na maternidade, também é mais cruel com as mulheres, o que dá ainda mais raiva. A taxa metabólica deles também cai, a nossa mais ainda. Nós parecemos destinadas a padecer mais depressa do que os homens mesmo. Cólica, dor do parto, menopausa, metabolismo mais lento, TPM. Por sofrer tanto inexplicavelmente temos uma expectativa de vida maior. Será uma compensação para tantas dores e desvantagens nem reclamamos tanto?     

Eu nunca fui de reclamar da parte ruim de ser mulher e muito menos de idade. Porém, a diminuição notável do meu metabolismo é revoltante. E vou reclamar porque quando falo me sinto mais leve de escutar que acontece com todas. Esta lição eu já aprendi: se fica mais pesado, o jeito é encarar com leveza, fazer o que é possível, sem me acomodar e ao mesmo tempo sem perder o bom senso.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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