O peso do erro

O peso do erro

Conheci a talentosa atleta dos saltos ornamentas Ingrid Oliveira por causa da foto postada por ela de maiô na qual muita gente falou sobre os atributos físicos da moça de forma desrespeitosa. Uma apresentação nada legal, mas que pelo menos serviu para eu começar a acompanhá-la. Depois, sem procurar, chegou a mim a informação de que ela caiu de costas na água e levou zero. Foram inúmeras matérias, memes, posts de indignação. Pensei: o Pan-Americano vai ficar marcado de forma negativa para a menina de apenas 19 anos. Alguns dias após o zero, Ingrid fez o melhor salto da carreira dela. Vi em uma única notícia sobre a conquista. Curiosa, procurei o vídeo, pois saltos ornamentais são para serem vistos e não só para saber resultados, mas, adivinhem? Só encontrei uma avalanche dos vídeos que mostram a jovem cair de costas na piscina.

Eu procurei muito. Fui da primeira até a quinta página do Google, o que só acontece quando estou muito interessada no assunto e o mundo cisma em esconder. Estranho é que foi um grande feito, apesar de não ter rendido pódio. Para ela, eu tenho certeza, foi a revanche pessoal de uma Ingrid que errou e a Ingrid que subiu na plataforma para brilhar. Com certeza naquele dia ela custou a dormir de tanta felicidade. Se pegou rápido no sono, sonhou com a aclamação da treinadora, de quem estava na platleia e dela mesma. A internet é que se ateve ao erro. Ingrid teve outro momento de destaque pelo mérito, a prata no salto em dupla. Hoje dei uma buscada sobre o salto dela no Pan e agora o zero divide espaço com o segundo lugar conquistado por ela com a companheira.

Menos mal. No entanto, mostra algo triste, é preciso uma façanha memorável, um desempenho perto do máximo para que um erro seja parcialmente “esquecido” ou pelo menos se misture com o acerto. Superar-se e acertar na maioria das vezes é pouco. Só que errar é humano e até saudável se quem comete o erro faz dele escola. O grande problema é que ao mesmo tempo que errar é humano, o homem adora um mal-feito, ressaltar o que a pessoa fez de ruim.

Li dia desses que o mal tende a se disseminar muito mais nas redes do que o bem. É isso que acontece. Ingrid embarcou para o Canadá como promessa de medalhas, e realmente trouxe uma, mas enfrentou o homem e sua tendência a gostar de jogar pimenta nos olhos dos outros como se não fosse cheio de falhas. É difícil ver o lado bom, ou pelo menos, de mostrá-lo. Eu, até hoje, estou a procura do salto na final individual, quero ver o primeiro momento de superação de Ingrid. No entanto, só querem me mostrar o zero e, uns poucos, a prata. Tenho certeza que o salto pós “fracasso” dela teve gosto de ouro, assim eu me sentiria. Porém, para a maioria o erro reluz mais do que ouro.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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