O menino no espelho

O menino no espelho

O livro em que Fernando Sabino dá vida às próprias fantasias e histórias de menino é um divertido retorno à infância. Não só a do autor, mas a de quem lê. Os dez capítulos que narram divertidos episódios têm semelhanças com a vida de qualquer garoto. Eu me vi em alguns contos e reconheci amigos em outros. Vi também metáforas adultas ditas por um menino.

Das dez histórias, a que gosto mais é “Galinha ao molho pardo”, quando Fernando tenta salvar a coitada de virar almoço de domingo. O personagem ficou encantado quando a viu, solitária a ciscar no quintal, sem companhia de nenhum outra. Na capital mineira da década de 30, galinheiros não eram comuns, já galinha caipira nas mesas durante o fim de semana sim. E a ave tinha uma razão nobre de estar ali, ser preparada para servir um homem de negócios muito importante para o pai de Fernando. Durante os dias no quintal, ele a batizou como Fernanda, brincava com ela como se fosse um cachorro e fez de tudo para salvá-la. Não vou contar o final, mas já digo que vale a pena ler para saber.

Uma história que tem a ver com minha infância é “Como parei de voar”. Já até contei aqui que alguns amigos tinham o projeto de construir aeronaves quando éramos crianças. Felizmente, eles não chegaram a testar a invenção como Fernando fez. Mas um barquinho que queríamos porque queríamos navegar um açude sempre naufragava no tanque que servia de teste para nós. Tínhamos sorte e quase nada de juízo, conforme costumam dizer. O quase fica por conta da precaução de colocá-lo a prova em águas menos profundas.

Os devaneios de Fernando são outra parte linda do livro, retratam o mundo que só as crianças conhecem. O ponto alto é o conto que dá nome ao livro: “O menino no espelho”. A vontade de ser dois, o amigo imaginário espelhado, o oposto no que parecia igual… Reflexões que vão além de uma fantasia infantil sobre só querer fazer o que é bom, se livrar de obrigações.

Não sei se hoje a meninada se reconheceria nas páginas, já que Fernando cresceu em um quintal de Belo Horizonte na década de 30, quando a cidade era uma capital muito diferente da atual e a garotada recorria aos terreiros, ruas e imaginação para brincar sem nada de tecnologia. Para eles, a leitura também pode ser proveitosa, um mergulho em outras possibilidades de se ser.

Os contos são tão bons que foram adaptados para o cinema. Ainda não assisti, mas ao recordar da leitura fiquei com muita vontade de ver o filme. O trailer deixou a impressão de que vale a pena, olha só:

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Você tem 5 comentários
  1. andreiarenata at 12:34

    Oi!
    Conforme fui lendo a sua resenha senti uma familiaridade gigantesca com a estória, confesso que não lembro de todos os contos mas os que você citou eu consegui me recordar, li esse livro já há um bom tempo, para o colégio, acho. E como gosto de livros de contos, lembro que achei esse bem divertido. Não sabia que tinha filme, já vou anotar a dica.
    Beijos,
    Andy – StarBooks

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