Um museu de significados

Um museu de significados

Perdi-me entre palavras, sonoridades; perdi a noção do tempo no Museu da Língua Portuguesa. Estranho seria se fosse diferente, se eu contasse os minutos para ir embora. O normal é ver o português ser maltratado, morto a lápis, desprezado como se ele não fosse essencial para expressar desejos e até para fechar negociações. Ignoram todas as transformações de pensamentos em palavras, jogam-no às traças. Lá não, é rei e encanta, ocupa o lugar que é de direito.

Mesmo as crianças o cultuam, tocam expressões e logo descobrem, como se fosse mágica, o incrível significado de carne em  grego, que é real. Acham tão incrível que correm atrás dos pais para contar. Este encantamento eu comprovei na fila para a praça da língua e depois de ver, ouvir, ler tantos poemas no local pensei: o que será que os pequenos pensaram quando viram que as palavras também se transformam, podem ter inúmeros significados? No segundo andar as palavras se mostraram como chegaram ao mundo, ou melhor, ao Brasil, no terceiro ganharam vida própria, faces de acordo com a vontade e entendimento de cada poeta.

Amor, tão falada na praça, parecia até ser traduzida em vários idiomas, embora só fosse explicada em português. Nasceu como sentimento bom e nos versos era fogo que arde sem se ver, descanso na loucura mesmo quando pouco, palavra para se economizar. E a terra de Gonçalves Dias era bem diferente da poetizada por Murilo Mendes, embora esteja no mesmo lugar.

Para mim, os significados de tudo são infinitos e sei que daqui a um tempo, quando voltar ao museu, a língua estará ainda mais rica, modificada por costumes, crenças, por nós. Porque o idioma é assim, embora desrespeitado por tantos, ganha vida na boca do povo, é rei e muda de acordo com a vontade de seus súditos.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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