Miopia diante da dor do outro

Fico surpresa com as minhas reações, maneiras de encarar o que é pesado. Na maior parte das vezes, me saio bem. Só que também me surpreendi com uma reação nada nobre minha. Um colega viveu duas situações muito parecidas com as que enfrentei, porém fez tudo de um jeito totalmente diferente do meu.

Fiquei brava. Que cara fraco, como pode? Pensei. Seria muito melhor se ele reagisse com mais sabedoria. Claro que não falei nada para ele, só pensei. Sofri não pelo drama dele, mas pela forma burra que encarava os fatos.

Ainda bem que a lucidez me encontrou a tempo. Me fez lembrar que meu amigo não era eu, apenas passava por momentos parecidos com os que eu havia passado. Esqueci que até chegar onde a vida o tinha colocado, ele teve uma educação diferente, a genética era outra. Ninguém é igual, parece óbvio, mas eu não vi isso. Também não sou nenhum modelo de ser humano, o melhor para ser seguido. Eu apenas fiquei surpresa com minha força e comportamento várias vezes, embora fraquejasse em outras tantas.

Encontrei a melhor forma de agir pra mim, o mais conviniente. Porém, há mil e uma maneiras de encarar a vida. Não há padrão justamente por as pessoas serem tão diferentes. Por isso há mil e um caminhos.

Também me esqueci, ao julgar o amigo, que às vezes a gente tem vontade e não consegue fazer o que quer. E que nestas horas tristes, difíceis, é preciso muito apoio. Eu com certeza não teria conseguido me superar não fossem tantas mãos amigas e naqueles dias eu quase dei as costas para ele.

Talvez parte da evolução seja isso: não comparar as atitudes dos outros com as minhas. Pode ser que agir assim seja tão nobre quanto me superar. É difícil enxergar tal aspecto, mas muito necessário. Faz de mim menos petulante.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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