Mar

Mar

 

Por muito tempo eu meio que me frustrei por não dar conta de te entender. E era penoso, porque era um esforço muito grande. A gente quando gosta de alguém quer saber o que fazer, como lidar, conhecer.

Mas talvez agora eu finalmente tenha conseguido começar a te entender. Ao menos ligeiramente, ao menos em parte, ao menos por segundo.

Eu entendi que você é como o mar, como a maré que chega na praia. Ela chega, mas vai embora rapidinho. Ela avança, mas recua. Às vezes ela avança mais, e às vezes ela se distancia também.

Você é como o oceano, calmo na profundidade e raivoso na superfície. Você é como a ressaca de um dia chuvoso, mas também manso como do verão mais ensolarado.

E você é imenso! É por isso que eu nunca consegui te compreender direito. É impossível desvendar todos os mistérios de um oceano, porque sempre tem uma fissura, no fundo, sempre tem um canto escuro em que não dá pra chegar.

É inútil também tentar te segurar. Experimenta sentar na areia com a água pelos joelhos, mergulhar as mãos e erguê-las em conchas com a água dentro.

É um milionésimo do oceano que, em questão de segundos – talvez minutos se você tiver um pouquinho mais de habilidade –, vai escorrer pelos seus dedos. E, se não escorrer, vai secar, evaporar rapidinho.

Com isso, pode parecer muito duro e muito cruel estar perto de você, mas não é! Você não é como o Pacífico chileno: gelado. Não! Você é Atlântico nordestino purinho: quente, aconchegante, agradável.

Depois de vencer a barreira onde as ondas quebram, estar com você é como mergulhar de cabeça sem medo do frio. É como flutuar tranquilamente sentindo o sal bem de leve na boca.

É por isso que eu tô parando de tentar de entender. É por isso que eu tô parando de tentar te segurar nas minhas mãos. É por isso que eu tô preferindo mergulhar quando dá e aproveitar cada braçada.

Talvez desse jeito, mais sentindo do que raciocinando, seja mais fácil conhecer mais você, descobrir mais você, me conectar mais com você. Nem que pra isso eu precise de um balão de oxigênio.

 

Escritor por Simião Castro Veja todos os textos deste autor →

Simião é jornalista, repórter de política, escreve contos e crônicas. Também conta histórias em áudio, vídeo, o que você pedir, é produtor multimídia, saca um pouco de tudo. “Eu tento ser um jardineiro das palavras, um aventureiro das sílabas. Duvido de tudo e prefiro assim! As certezas me assustam. Quem tem certezas demais também”.

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