Fuga para libertar um amor em Bichinho-MG

Fuga para libertar um amor em Bichinho-MG

Coelho e Tianina se amavam em um tempo que o pai da moça mandava muito no casamento da filha. E o pai de Tianina, uns tios bravos e tantos outros não gostavam nada nada de pensar nos dois juntos. Mas o casal se esbarrava pelas ruas da mineira Bichinho, o que não era lá muito difícil, pois a comunidade é bem pequena. Bom para eles, mesmo que os pais proibissem era impossível que não se vissem. Pelo olhar os dois combinavam encontros, trocavam confidências, faziam juras. Se alguém perguntasse, era só dizer que foi uma coincidência se encontrarem nas festas ou na venda.

Ajudados pela pouca iluminação da época, as mãos se entrelaçavam rapidamente antes que alguém pudesse notar. Foi assim durante muito tempo. Um amor alimentado pelos detalhes, com poucas palavras e muita vontade de um dia eles poderem sentar no sofá da mesma casa, com a mãe de Tianina de olho, como era costume da época. De vez em quando eles se viam escondido, em segredo, o que aumentava o desejo de poderem ficar juntos diante de todo mundo. Foi essa vontade cada vez maior que encorajou Coelho a fazer uma loucura.  O álcool também o ajudou a transformar o desejo em ação.

Era dia da festa da padroeira, Nossa Senhora da Penha. Tianina estava mais bonita que de costume. Olhar de longe era sofrer. Ele aproveitou a saída dos pais da moça e foi atrás. Puxou pela mão, levou-a para longe do alcance dos olhos de quem estava na festa e falou: “É hoje que nós vamos mudar nossa história, viver nosso amor”. Antes que a moça pudesse responder, ele a colocou no cavalo e saiu a galopar sob a luz da lua.

O casal parou em um lugar que parecia preparado para eles. Uma verdadeira casa de pedra, uma rocha que servia de telhado,  em um local conhecido como Baú. O medo era que os donos do terreno os descobrissem, mas os deuses do amor pareciam estar do lado deles. Por lá passaram mais de um mês. Enlouqueceram a família de Coelho e Tianina, os amigos, pareciam ter ido para longe.

Um dia, quando ficou muito difícil encontrar alimento e manter o silêncio da fuga, decidiram retornar para Bichinho. Os pais de Tianina não sabiam se brigavam com os dois ou se ficavam felizes em vê-los, claro que o sogro não abriu mão de esbravejar. Só que foi a braveza mesmo que levou Tianina e Coelho ao altar. A rixa com Coelho era menor que o orgulho. Àquela altura sabe-se lá o que havia acontecido entre os dois. O jeito foi concordar com o casório, dar a bênção.

E dessa forma eles se uniram, tiveram filhos, netos, bisnetos, provaram que o amor era para a vida toda. Forte como a rocha que os protegeu das proibições e desfez os obstáculos.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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