Escrever é se juntar a uma multidão

Escrever é se juntar a uma multidão

Já ouvi inúmeras vezes que o escritor tem uma profissão solitária. Eu não acredito. Pelo menos para mim não funciona, fico sem inspiração quando passo tempos sem ver ninguém, o que acontece vez ou outra, por causa de trabalhar em home office. Porque um texto começa bem antes de eu sentar no computador. O dia que tem início quando sento para escrevê-lo é certeza de dificuldade. E as letras vêm das pessoas, do que ouço, observo – ninguém cria do nada, caso o fizesse seria difícil o leitor se enxergar nas crônicas, contos, causos… Nem tudo é baseado em fatos reais, mas inspirado é, nem que seja em um fragmento capaz de ser o fio condutor da imaginação.

Escrever em si, o ato de fazer as palavras se formarem, irem para o papel, ou tela, sim, muitas vezes é algo que faço sozinha. Muitas, eu disse, o que está longe de ser todas. Já escrevi enquanto tomava chás de cadeira, no ônibus, onde quer que eu estivesse e sobrasse um tempinho, cercada por vozes, buzinas, pessoas, longe de estar só. E mal sabia a pessoa que a fala dela talvez fosse o que faltava para eu ter uma ideia e desenvolvê-la. Todas as vezes que volto de viagem fica mais fácil escrever, pois escuto muita gente, vejo o que me desperta a atenção e escaparia fácil aos olhos de quem vê a mesma paisagem todos os dias.

O texto não sai da minha cabeça. Ele está nas pessoas com quem convivo, me lembro ou ao menos ouço falar. Escrever pode ser tudo, menos solitário, pelo menos para mim que escuto várias vozes enquanto redijo. É a vó com voz de criança em uma história de criança, o pai adolescente, a mãe que transcendeu, o amigo que está longe… Também falo do que sinto, e há um turbilhão imenso dentro de mim. Porém, nem isso é solitário. Sinto porque sou provocada, porque alguém falou ou fez ou algo, porque me recordo de quem um dia esteve tão perto.

Como li dia desses, o escritor tem que viver mais que escrever, porque a literatura é feita da vida e para a vida. Escrever é uma consequência nada solitária, mesmo se eu estiver trancada em um escritória no momento que redijo.

 

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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