Dever obrigação é diferente de ser grato

Dever obrigação é diferente de ser grato

Ser grato é muito diferente de “dever obrigação”. Quando ouço que uma pessoa vai fazer algo para outra porque deve obrigação a imagem que tenho é de alguém com um sorriso amarelo no rosto, preocupado em manter as aparências. Gratidão vai muito além. Ser verdadeiramente bondoso nem se fala, passa longe de pagar com um favor outro ou se tornar um puxa saco. Eu nunca faço algo com o pensamento de que a pessoa vai “me dever obrigação”, nem retribuo um favor pensando que naquele momento fico quites com a pessoa.

Uma vez pago nunca mais poderei fazer o bem a ela? Vou ter que esperar que me faça um favor para dever a tal da obrigação?

Dívida é quando há algum negócio em jogo, tudo colocado em contratos, acordado. Isso sim é ter algo a pagar. E dever obrigação é meio que isso. Troco um favor por outro – um favor vale uma obrigação, assim como um Tridente custa R$ 1,20.

Nem sei porque estranho tanto essa lógica. Hoje é assim – como se a vida fosse toda totalmente monetizada. Gratidão é superior. É quando fazer o bem se torna rotina, na maioria das vezes nem precisa de o outro pedir, eu me antecipo, vejo, do meu olhar surge a minha ação porque sou grata. É agradecer sem que pese.

Gratidão é bem mais sutil e preciosa com o tal dever que algumas pessoas pensam ter. Eu sou grata de ter pessoas que gosto por perto e só a companhia delas já vale ajudar. É algo tão natural que nem penso se devo ou não “fazer um favor”. Porque bom mesmo é vê-las bem.

Quem tem uma caderneta para anotar débitos e créditos, acredito eu, tem dificuldade de ser gentil com quem nunca mais verá, na rua, por exemplo, pois corre o risco de nunca mais trombar com a pessoa para ela pagar a obrigação. Talvez por isso tanta gente passe indiferente perto de quem está em apuros, ou que, simplesmente, queira atravessar a rua em segurança, sentar no ônibus lotado.

Ajudar é uma graça, pois só colabora quem tem o que falta no outra – seja tempo, disposição e até saúde. Ajudar é ser grato, agir por obrigação é mostrar que nada entende sobre o que veio fazer neste mundo.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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