Confusões em dia de festa: a família trocada

Nem tudo são flores em dias de festa, pelo menos as mais finas, como os casamentos. Algumas mulheres passam o dia se preparando: cabelo, roupa, maquiagem. Os homens, os quais ficam prontos mais rápido, também estressam. Além do cuidado com o terno, cabelo, barba e bigode, há de esperar mulher e filhos para sair. E naquele sábado, Orlando não se aguentava mais. Perambulou pela casa toda: abriu a geladeira três vezes, escovou os dentes duas, pois o apetite pediu um leitinho, um café; foi ao banheiro umas cinco vezes para lavar a mão e tentava não chamar as duas filhas e a esposa.

Até trocar de sapato ele trocou para ter algo para fazer. Quando esgotaram-se os passatempos em casa, chamou a mulher, já pronta e ainda ficou a espera de Juliana, que terminava a maquiagem. A outra irmã já estava a espera também. Pressionada, a moça entrou no vestido em segundos e colocou-se na sala.

Orlando pensava: “até sair é uma peleja, mas na festa vou me divertir demais, nada vai atrapalhar”. Ele era desses homens animados, tinha uma dancinha típica – remexia os joelhos e ia até o chão – quem tentava acompanhar, e eram muitos, acordava descadeirado, menos ele e Juliana, que acordavam 5h30 para malhar, diferente da turma 99% sedentária da qual faziam parte.

Só que naquele dia algo diferente aconteceu. Orlando voltou para casa antes da primeira taça de vinho e das músicas que favoreciam a dancinha típica. Quando sentou-se com a família e olhou para o chão, o espanto: um pé de sapato marrom e outro preto. A cabeça ficou tão ruim que na hora da mudança dos calçados, para o tempo passar mais rápido, ele literalmente trocou os pares. Também, a cabeça estava quente com a demora das filhas e da mulher, já não havia com o que se distrair para esperá-las.

— O que foi, Orlando? – perguntou a esposa ao ver a expressão do marido

— Um sapato marrom e o outro preto, vamos ter que ir embora.

— Nossa, como você fez isso?

— Resolvi trocar e troquei mesmo. Tem nem jeito de dançar, todo mundo olha para o pé e vão achar que fiz por palhaçada.

Quando acabou de falar, Juliana chegava e a mãe veio com outra pergunta.

— Minha filha, seu vestido não tinha uns botões na frente?

— Tem, uai. Nossa, mas cadê?

Aí é que todos perceberam que ela havia colocado o vestido ao contrário. Resultado: a família levou mais tempo entre esperas e arrumação do que permaneceu na festa. Voltaram todos e no outro dia ninguém acordou descadeirado, mas bem que queriam ter contado com a alegria da dancinha de Orlando.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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