Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabeladaaaa

Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabeladaaaa

Muita mulher poderia parodiar a música do Martinho da Vila – “Já tive cabelos de todas os cortes, liso, enrolado…” E por aí vai. De acordo com uma pesquisa, cada uma tem, em média, 150 tipos de cabelo durante a vida. As variações seguem o sabor das tendências, dos gostos e até dos hormônios. Eu já tive o cabelo liso escorrido, ondulado, cacheado e nem lá nem cá. Passei por todas essas fases naturalmente e também porque fui ao salão mudar.

De uns tempos pra cá decidi abandonar o alisamento. Meu cabelo já era mais para liso, porém com um volume e eu queria eliminá-lo. Fiquei com ele baixo por uns 3 anos, decidi que não queria mais porque preferia destacar as camadas e poder fazer cachos de vez em quando, os quais nunca ficavam com o cabelo alisado. Assim foi feito. Recebi muitos elogios e deixei os meus fios do jeitinho que eu queria. Minto, às vezes. Com a progressiva meu cabelo estava arrumadinho todos os dias. Sem, muda conforme o tempo, nada que eu não possa dar um jeito ou até deixar da forma que amanheceu quando assim me parece bonito.

Só que nem sempre as pessoas entendem que assim escolhi. E não é só eu que tenho que lidar com isso. Em um debate de um grupo, uma menina relatou que depois de ter ouvido se ela não iria cortar o cabelo pela terceira vez, resolveu contar quantas outras pessoas iriam fazer a mesma pergunta. A soma deu 8, num dia apenas, hein? Outra, depois de assumir o Black Power, depois de anos de liso, é parada na rua, por desconhecidos, por causa do cabelo. Eu fui em um salão marcar horário para uma escova modelada e a cabeleireira veio me falar que tinha uma progressiva muito boa, que eu nem teria que me preocupar com volume. Resultado: um dia antes do meu horário no salão desmarquei e nunca mais fui lá.

O que eu queria era exatamente um cabelo mais natural, sem química, que me permitisse fazer o que eu quisesse. Sair do banho com o cabelo pronto me pareceu excelente ideia por anos, porém liberdade para mim passou a ser mais do que ter o cabelo sempre arrumado, eu queria que ele ficasse do jeito que eu quisesse e não liso sempre.

E como uma das meninas colocou em cheque, é muito estranho isso de ter coragem para assumir os cachos, o crespo, ondulado… Faz parte da gente, é algo natural, não deveríamos ter que ter coragem. De vez em quando umas dizem que no momento que estamos cabelo natural é moda, por isso podemos usá-lo assim, entretanto, eu nunca precisei da chancela de nenhum estilista para usar o cabelo do jeito que quero. Coincidentemente, uma amiga que assumiu o black e ficou linda disse que o cabelo afro não é moda e sim postura política. Realmente, cabelo pode servir para nos expressarmos. Não é à toa que temos várias simbologias ligadas à ele. Força, sensualidade, orgulho das raízes… Tenho um milhão de motivos para escolher como vou usá-lo.

Deixar do jeito que ele veio ao mundo é dizer obrigado e uma graça, menos horas enfadonhas no salão. É claro que aquelas que desejarem alisar, encaracolar ou mesmo raspar também podem. O que não pode, na minha humilde opinião, é gente que nunca te viu te parar na rua para mandar fazer isto ou aquilo com o cabelo.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

Oi, o que achou do texto de hoje?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *