Amor de amigo também acaba

Amor de amigo também acaba

Eu sei que é melhor escutar que amizade é o amor que nunca morre, porém, quem já viveu mais de 20 anos há de concordar que vários laços de amizade ditos eternos se desfizeram ou afrouxaram ao longo do caminho. Entendo que a vida toma rumos inesperados e aquele amigo do coração sumiu do mapa até que o Facebook, Twitter ou qualquer outra rede social trouxesse de volta a conexão pelo menos virtual. E não, não acho que isto diminui o amigo, tira o valor dos anos em que vivia grudado e as conversas eram diárias. É ruim, claro, porém, faz parte.

Amigo é amigo seja por um dia ou uma vida inteira. Como namoros e casamentos mesmo, alguns duram dias, outros só a morte para por um fim. Só que falar mal de namorado ou marido é aceitável, de amigo não. Pode-se sofrer com o final de um namoro, é legítimo – na amizade não existe término formal em quase 100% dos casos, tudo fica no ar. O que me deixa feliz é saber que a maioria é mais “dar um tempo” do que um final ou caraminholas na cabeça, insegurança. Tento conviver bem com esses caminhos pouco falados da amizade, entretanto, como ser humano que sou eu sinto, e muito.

Não passo ilesa a um sumiço que me parece por motivos pouco justificáveis. As pessoas precisam se ver porque sentem vontade, saudade, obrigação não. Prefiro o banho-maria da amizade do que saber que forcei a barra ou que o amigo foi ao meu encontro porque precisava ir.

Um dia, quem continua amigo, procura, sente vontade, larga tudo, se reencontra. E tudo isso – o tempo, a distância, o gelo – parece nada diante da alegria da presença quando acontece esse tipo de flashback da amizade. Tem momentos que é tipo aquele papo de que agora não é hora, talvez lá na frente a amizade, ou melhor, o encontro entre os amigos, faça mais sentido. Como uma história de amor, amizade depende de sintonia e quando os dois não estão na mesma frequência há um descompasso, lá na frente pode ser que haja uma afinação.

E aquelas amizades que vão durar até o fim resistem a fases diferentes, tempo, distância. São bem maiores do que tudo isso. Dá raiva não conseguir conciliar datas, mas lá no fundo sabe-se quando é pra ser eterna, mesmo com uma vontade de ver que não passa e nunca dá certo também.

Amor de amigo é como o dos casais – nem por jura pode durar para sempre quando o sentimento desaparece. Esfria, esquenta e até acaba. O que não quer dizer que tenha sido tudo perda de tempo, né não. É só algo natural, triste, porém, natural. Eu espero sempre  o reencontro e continuo a amar, se for pra ser, como o amor entre namorados, será, nada nem ninguém atrapalha.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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Você tem 2 comentários
  1. Simeia Silva at 3:11

    Concordo com tudo que você disse em seu texto e realmente a amizade é como o amor, ele não vive e sobrevivi apenas com juras e pode também chegar ao fim, mantê-la é difícil, mas quando conseguimos é gratificante e maravilhoso.

    bjs

  2. Heloísa G. A. at 22:25

    Oi Talita, tenho dois tipos de amizades duradouras em minha vida: uma é de longos 18 anos, vivemos como unha e carne, morrendo de ciúmes uma da outra, e nos encontrando toda semana. Outra é do tipo que não se vê muito, talvez 1 vez por ano, mas que tem durado 6 anos e sempre continua a mesma, nada muda. Acho isso muito engraçado, com quem convivo mais sempre rola uma discussão, um encher de saco HAHA, mas quando rola uma saudade, uma distância, as coisas são sempre agradáveis. Ótimo assunto para discussão, bjs!

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