Segundo time

Segundo time

Eu sou incapaz de torcer contra o América Mineiro, é meu segundo time. Talvez por respeito, meu pai é americano e levo o mandamento a sério: não o desonro. Ele tentou fazer que eu colocasse o Mequinha em primeiro também, antes até do Galo. Foi em vão, porém tive uma das experiências mais legais com futebol em uma dessas tentativas dele.

Em 1997, fui uma das mais de 20 mil “torcedoras” a testemunharem a vitória do América Mineiro sob o Vila Nova no Horto, quando atleticanos nem sonhavam que o Independência seria o melhor local de combate para o Atlético e os americanos viam a série A deixar de ser ilusão.

Com dez anos eu entendia de futebol porque acompanhava meu pai tirar o horário de almoço em frente a TV, de canal em canal a procura de notícias do mundo da bola. Estranho que as notícias sobre o América dele nunca vinham em destaque, mas eram vistas com a mesma atenção, por ele e por mim. Naquele ano, o América Mineiro e a Ponte fizeram uma campanha espetacular na Série B e meu pai não podia perder a confirmação da vitória, nem eu, que o acompanhava em tudo que dava. E esporte era e é o que o deixa mais feliz, aí dava gosto ir atrás.

Vi a torcida enlouquecer e invadir o campo (veja o vídeo no final). Tupãzinho, nome do jogo, saiu só de cueca – camisa, chuteira e calção foram levados como troféus por quem foi à campo comemorar Eu cogitei a possibilidade de entrar, mas meu pai sabia que eu tinha apenas 10 anos, não seria apropriado.

No entanto, esperamos os jogadores na saída. A camisa do meu pai foi autografada por Tupãzinho, Gilberto Silva, Boiadeiro, Milagres (goleiro). Eu achei engraçado demais um jogador, Boiadeiro, no caso, sair do jogo e logo calçar as botas típicas do campo. Ao recordar esta história me perguntei por onde ele andava e descobri que está em uma fazenda paulista. Ele demonstrava mesmo gostar de tocar boiadas, mais que a bola.

A camisa minha mãe lavou e levou embora todos os autógrafos, porém eu não me esqueço de nada, nem do jogo, nem dos torcedores. Os alvi-verdes eram bem mais sossegados do que os atleticanos e cruzeirenses, e mesmo a maior vitória curtiram civilizadamente. Tá, eles deixaram o principal nome do time quase nu, mas não vi nenhum quebra-quebra, violência ou coisa que o valha. O time tem disputas bem mais tranquilas do que os dois grandões de Minas, pode ser este o motivo que mantém os ânimos mais tranquilos.

Porém, mesmo na Série B, naquela época subindo para a A, o América Mineiro conquistou um pedaço do meu coração. Pela simpatia, pelo amor da torcida mesmo sem resultados que os coloque na ponta, na elite.

O América terá sempre o segundo lugar no meu coração e meu pai, o torcedor mais especial, o primeiro na minha vida.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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