A praticidade do nosso amor

A praticidade do nosso amor

Às vezes alguns grilos na minha cabeça dizem que somos muito secos. O carinho frequenta nossas atitudes, entretanto de uma forma reservada, sem escancarar por aí o que sentimos. Nunca comemoramos o Dia dos Namorados nem antes de casar. Somamos a celebração aos nossos aniversários, 17 e 18 de junho, com o dia 12. Mesmo assim, é uma festa sem alarde, resume-se a algumas cervejas, normalmente a dois.

A proximidade do nosso nascimento parece ter sido arquitetada milimetricamente pra nós: um casal prático. Desde sempre condensamos os presentes em um só dia. Isso quando eles existem. Neste ano, por causa da quantidade de contas e planos futuros, decidimos passar em branco, sem dramas. Foi uma maneira fácil de poupar.

O casamento por pouco não foi no aniversário de namoro. Por motivos maiores tivemos que cancelar, porém uma das razões para considerar o 30 de julho foi ter uma data unificada e muito simbólica para lembrar da nossa história. Engraçado é que apesar de parecer anti-romântico, nossas decisões práticas vêm carregadas de significados amorosos. Quando a gente se conheceu e descobri que o niver era um dia depois do meu eu logo pensei que esse era um sinal de que devíamos mesmo ficar juntos.

Mas levamos nosso cotidiano sem sobressaltos e grandes gestos. Dificilmente abrirei a porta de casa e vou me deparar com uma surpresa. Você também não. Admiro a criatividade e disposição dos casais que ficam meses pensando no que fazer um para o outro e até fora de época surpeendem o outro. Essa pauta não está nos nossos dias porque nosso amor é prático. Nosso amor é preocupado demais com o que a primeira vista tem pouco a ver com o que fica bonito nas fotografias de redes sociais.

Você fica feliz quando lavo todas as vasilhas imediatamente depois de comer. Abrimos um sorriso toda vez que as contas do mês acabam. Se sobra um troco para a poupança das viagens dos sonhos é quase festa. Vamos ao mesmo sítio quando a folga cai no sábado sem inventar muito. Você acorda mais cedo pra me ajudar com o almoço, minhas frutas e pra facilitar meu trajeto até o trabalho. Não se esquece de nada que preciso fazer, me lembra o sobre documentos que preciso providenciar. Até meus sapatos com estragos você conserta, bem como quase tudo em casa. A gente não tem estresse com grandes gestos românticos porque a praticidade faz parte de tudo na nossa vida.

É difícil enxergar amor nesse jeito nosso. Mas há muito. A primeira preocupação é como deixar o dia a dia do outro mais simples e o que fazer para concretizarmos os nossos planos a longo prazo. É preciso tanta disposição quanto para pensar em uma surpresa, criatividade também, de um jeito menos impactante, mas o que temos feito exige jogo de cintura diante das circunstâncias nada fáceis.

Aliás, se não houvesse praticidade em nosso amor, teríamos sucumbido lá no início da oficialização da nossa vida a dois. Quantos contratempos! Se o romantismo em seu significado mais clichê tivesse feito parte de tudo, como seria mais difícil dizer nosso sim. Cá estamos com nosso jeito pouco convencional de gostar um do outro. E assim, sem questionar, eu pretendo continuar, com muita gratidão por ter descoberto uma maneira muito simples e prática de gostar infinitamente de você.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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