A palavra feia que convenceu Marília a se casar

A palavra feia que convenceu Marília a se casar

Marília estava decidida: iria se mudar para a casa de Henrique, estaria casada depois da mudança. Se amavam, o respeito era maior do que entre muitos casais que se celebram com pompa e circunstância. A mãe, coitada, já havia argumentado de todas as formas que a moça devera dizer sim pelo menos no cartório. Mas não houve palavra de mãe, nem choro, cara ruim de pai que convencesse a teimosa a se casar. Arrumou as malas e despediu-se. Pensava – eles vão se acostumar rápido, na vida tudo é assim.

A mãe rezava noite e dia para a filha mudar de opinião. O pai vivia triste, não se conformava. Mas como Deus sempre se compasse das preces maternais e do sofrimento de um pai, arrumou um jeito de convencer a moça. Certa tarde, Tereza foi visitar a casa nova da amiga. Elas conversaram e quando deram por si já estava na hora do jornal regional da noite. Assistiram. De repente, o apresentador diz: “A amásia de Cléber disse que não sabia de nada”.

— Como assim, amásia?

— Você é uma amásia, Marília.

— Sou amásia? Ah não, ninguém vai me xingar assim não.

— Menina, tem nada de xingamento nisso, amásia é quem junta as escovas de dente sem formalizar a união.

— Mas é feio demais, achei que eu era companheira só.

— É só um sinônimo, menina.

— Ah, quero correr esse risco não, vou dar um jeito de me tornar esposa de papel passado.

Em um passe de mágica Marília começou a pensar em se casar, amásia não dava para ser. Que isso, parecia um xingamento! Como iria carregar aquele nome feio a vida toda? Quando a mãe soube agradeceu a todos os santos por ter colocado aquele nome feio no caminho da filha. O pai, para não ter perigo dela se costumar com o xingamento, pagou todas as despesas de cartório no mesmo dia e agendou a data sem nem saber a opinião do noivo. E foi difícil convencer Henrique, ele pouco se importava em ser amásio, queria era ver se daria certo antes de oficializar a união com Marília.

— Amor, deixa disso, meu pai e minha mãe nem estavam conversando com a gente direito, cada um mais triste que o outro. Se der errado a gente vê o que faz.

De tanto escutar a lereia e que amásio, amasiada, era um nome quase palavrão, Henrique concordou. Comprou um par de alianças, um terno e chamou a mãe e o pai que viviam longe, mas que ficaram muito felizes em ver o filho se casar. Só que eles não entenderam, até hoje, porque tanta ojeriza da palavra amásio e ficaram com receio de perguntar. Porém, eles tinham uma missão: convencer os dois a se casarem na igreja.

Ainda não apareceu o que os convencesse caminhar até altar, mas a sogra de Marília sabe, Deus tarda, mas não falha, um dia bastará uma palavra para que os dois façam a vontade dela e Dele.

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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