A falsa emoção dos finais

Eu confesso: assisto todos os finais de novelas por mais previsíveis que pareçam ser. E olha, na maioria das vezes me decepciono. Os autores sempre arrumam uma maneira de me contrariar. Nem sei porque dou tanto valor aos desfechos, já que pouco ou nada acompanhei o desenrolar da trama. Porém, eu tenho uma desconfiança. Ser humano que sou, procuro juntar as peças dos acontecimentos diários, entender o resultado de idas e vindas, mesmo que numa ficção besta. É como se fosse muito difícil imaginar o fim, de uma forma ou outra, minha mente entende que a novela acelera os anos e dá uma noção de que tudo pode acabar bem, pelo menos para quem é bom. Há controvérsias? É raro, o comendador era querido, mas estava longe de ter um caráter admirável, embora eu tenha desejado com todas as forças que ele tivesse terminado a saga feliz.

Na verdade, a gente gosta de se enganar. A vida não tem lógica, nenhuma e constatar isso dói.  Aliás, até tem, entretanto, acontece desordenada e só vai mostrar o significado do caos bem à frente, vem  dizer que a bagunça era a ordem certa. Reviravoltas de novelas são fichinha perto do que a vida faz. Eu já cansei de ela me virar do avesso, deixar tudo de ponta cabeça quando os sonhos pareciam mais perto da realidade e tudo vir ao chão. Na novela isto também acontece, mas é escrita para dar certo, de forma mais (ou menos) emocionante.

A vida não é como novela, o amanhã é a maior interrogação que existe, até assusta se  pensar demais. O que não pode ocorrer é minhas forças irem embora e o medo tomar conta de mim por causa dessa imprevisibilidade. É aí que a emoção do fim faz pouco ou nenhum sentido. É o caminho que deveria ser desejado, o fim da estrada não, o gosto de chegar lá vai embora logo depois da comemoração. Claro que as conquistas merecem e devem ser celebradas, mas por vezes eu pensei estar no fim de uma fase ou no meio de um projeto e a ordem não era bem essa.

A vida tem pouco respeito pelos planos.

Por isso cada passo deve ser significativo, é deles que estou certa. Se o fim está perto ou não pouco importa se o caminho for bom. E bom, para quem veio neste planeta arregaçar as mangas, nunca quis dizer apenas feliz, sem dificuldades. Uma estrada boa é aquela que ensina e até mostra caminhos diferentes dos previstos. A vida não é previsível como as novelas, ainda bem!

Escritor por Talita Camargos Veja todos os textos deste autor →

Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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