A dor da alma se torna física para procurarmos a cura

A dor da alma se torna física para procurarmos a cura

Às vezes o esquecimento pega o ser humano nos braços como a mãe que protege o filho. Quando a dor é demais o topor toma conta, quem assiste uma vítima de acidente sabe que ela gritou, se desesperou, porém é comum que o esquecimento não há deixe enquanto o socorro não chegar. Mesmo quando a consciência é devolvida, é normal que o corpo demore um pouco a sentir ou que só depois de um tempo sinta com a intensidade real as pancadas que levou. O susto até vem, acompanhado de uma tentativa de entender o que houve, porque sangra. Só que ele só aparece para ser lembrado quando a pessoa já está amparada.

Com a dor da alma é bem diferente. O ser humano tem mania de se tornar um museu de aberrações, de dores sentimentais. É raro que um mecanismo fisiológico salve o ser humano por um bom tempo quando a dor começou na cabeça e não na carne.

Em vez de esquecer, como as insuportáveis dores físicas mostram, a memória é tomada pelo que me fez mal e enquanto não decido aceitar, a alma sofre e até o corpo começa a sentir quando dor enquanto pessoa não procura se curar.

Desconfio que a dor que começou no coração se transforma em dor física para estranhamente fazer o que a cabeça devia ter mostrado. Aí é hora de procurar amparo, não tem mais jeito. Na carne o sofrimento fica mais evidente e mostra urgência. Acumulam-se os males, espalham-se! Mas é uma metástase que seria evitada com a cura do que começou na mente e n’alma se déssemos um jeito nela no início. Só que enquanto a causa da dor é mental, a gente pensa que vai passar com os dias ou que é assim mesmo que a vida é, entretanto não deixa de sentir. Sente tanto, não consegue esquecer ou pelo menos lembrar sem dor que uma hora a dor grita por toda parte.

Tem acontecimentos que são difíceis de esquecer mesmo e talvez o homem não tenha um mecanismo parecido com as fortes dores porque o ser humano não pode se anestesiar de tudo, ficar alheio ao que lhe acontece. Ele tem que sentir mesmo, consciente, de olhos bem abertos, embora com sabedoria. Tenho certeza que fomos colocados no mundo não apenas para ser felizes, mas para evoluir e evolução é passar por tudo – momentos alegres ou tristes – com a certeza de que tudo é aprendizado e passageiro – o que é ruim e o que é bom.

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Talita Camargos é jornalista e flerta com a literatura, procura inspiração em conversas de ônibus, flores, familiares e amigos. Idealizou o Texto do Dia e publicou nos 365 dias de 2015 neste blog como desafio pessoal.

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